COLABORATIVIDADE A ARTE DE DECOLAR OU NAUFRAGAR – parte 1

A primeira apresentação sobre colaboratividade a que obtive acesso foi uma palestra do Dr. L. Michael Hall, na véspera do lançamento de seu livro “O Líder Colaborativo” (Ed. Qualitymark, 2018). Foi com base neste material e formações em Neuro-Semântica que compartilho também meu entendimento sobre o tema. Se você chegar ao final e concluir que está na condição de me dar um feedback de presente, ficarei feliz nessa doação.

O MOTIVO DA NEURO-SEMÂNTICA FALAR DE COLABORATIVIDADE

Imagine sua sensação ao identificar o clima, nada colaborativo, dentro do centro cirúrgico, nos momentos antecedentes a neurocirurgia de uma pessoa que você ama. Ou se você fosse passageiro em um ônibus espacial prestes do lançamento, mas testemunhando um clima desse. Certamente a rivalidade, desconfiança, desrespeito e falta de humildade dominariam até as moléculas da maçaneta das portas.

Na Neuro-Semântica acreditamos que as organizações são formadas por pessoas e são elas que estabelecem relações. Até porque somos seres relacionais.

Ouvi recentemente em uma palestra que pessoas representam 47% do ativo de uma empresa. Por isso eu acredito ser uma grande mentira aquela anedota de que “as empresas do futuro terão três funcionários: uma máquina, um vigia para cuidar da máquina e um cachorro para não deixar o vigia mexer da máquina”. Sem gente não há futuro, nem mesmo presente.

Uma vez que as pessoas estabelecem relações, considero a diversidade, a grandeza e a pluralidade dessas relações constituem tema para as mais diversas intervenções organizacionais. Estudo na Neuro-Semântica como as relações e interações, que interligam pessoas a se ajudarem a trabalhar em harmonia, especialmente para promover um ambiente de colaboração em equipe, pois, juntas produzem mais e melhor do que se estivessem sozinhas.

Entretanto, existem comportamentos com sérias características disfuncionais que afetam diretamente a colaboratividade. Essas disfuncionalidades seriam derivadas do estilo ou forma de agir que não contribui para o surgimento de um time que promova crescimento nos resultados financeiros. Interferência essa que gera dispersão, distorções, ruídos, etc. que afetam até o clima organizacional, uma vez que foi instalado o caos interno de um contra o outro e todos contra todos.

A disfunção exponencial é facilmente evidenciada quando prejudica as relações interpessoais, afetando a comunicação das pessoas e por esta razão são necessárias intervenções pontuais de exprerts, bem antes que ocorra a explosão da aeronave em plena troposfera.

Nem sempre procuramos voluntariamente por trabalhos colaborativos, mas em todo tempo estamos ligados a algo que depende da nossa contribuição, mesmo que não estejamos diretamente cientes.

Desde a antiguidade, o mundo em que vivemos funciona de forma colaborativa. Quando você toma um cafezinho na padaria, não se dá conta de quanta colaboratividade existe envolvida ali. Imagine se tivesse que pagar meio centavo para cada pessoa que interveio, por mais singela que fosse, até esse néctar chegar em sua xícara.

Nos dias atuais os RHs estão mais atentos quanto ao treinamento e desenvolvimento de pessoas (T&D), especialmente porque não basta desenvolver somente hard skills (habilidade técnica), sendo mais relevante ter soft skills (habilidade comportamental) o que tem determinado a permanência dele na folha de pagamento. Sendo que o mesmo nível de exigência se aplica com mais rigor aos líderes como facilitadores desse ambiente.

É extremamente relevante a capacidade como os líderes utilizam os pontos de melhoria do comportamento das pessoas, como alavanca para o desenvolvimento. As práticas da Neuro-Semântica facilitam criar um ambiente de colaboratividade funcional, especialmente a atração e retenção de talentos, bem como a edificação de um clima organizacional ultrafuncional que desperte um time de alto desempenho.

A razão da Neuro-Semântica abordar sobre colaboratividade é para que você perceba o impacto que o comportamento disfuncional tem nos relacionamentos e, por consequência, na promoção de ambientes de colaboração. Eu me refiro a disfuncionalidade de não criar um ambiente de colaboratividade.

A orquestra é o exemplo de Colaboratividade 

Co+labor+ação pode ser traduzida como: a ação do trabalho em conjunto que almeja atingir um resultado mais rico e completo para ir além do que qualquer pessoa poderia alcançar sozinha. Os seres humanos são criaturas sociáveis e desde muito cedo em nossa história aprendemos a colaborar. Seria desejável que habilidade como colaborar com os outros, naturalmente estivessem arraigadas em nosso DNA. No entanto, isso não acontece assim.

Somos como um diamante bruto, que já é valioso por natureza, mas é após a sua lapidação que ele tem seu valor multiplicado. É possível identificar a extensão do trabalho do lapidador quando se olha de perto o número de facetas lapidadas na joia pronta. Imagine como foi construir uma a uma, que agora brilha esplendorosamente. Assim também é com o trabalho colaborativo. Neste caso as facetas a serem lapidadas são os comportamentos das pessoas da equipe. Esse é o papel do líder junto a equipe ao criar um ambiente de colaboração.

Cada membro do time é uma faceta a ser lapidada, porém, dentro dele existem outras inúmeras facetas que também requerem polimento para serem vistas. Os ingredientes principais no desfrute dos êxitos dessa iniciativa colaborativa está na própria origem da palavra, que atende um objetivo comum. Considere outras numerosas facetas da colaboração como confiança, segurança, disposição, flexibilidade, resiliência, relações, foco, distinções, abertura, etc.

Um bom exemplo é a obra sinfônica “O Bolero” (1928), de Maurice Ravel. Ali estão de 26 a 40 instrumentos em cinco categorias distintas. Os instrumentos se intercalam entre silêncio e atividade, cuja sensação de mudança é dada pelos efeitos de orquestração e dinâmica, com um crescendo progressivo e uma curta modulação em mi maior próxima ao fim, mas retorna ao dó maior original faltando apenas oito compassos do final. 

Por isso, afirmo que o trabalho colaborativo está mais para uma dança entre os parceiros do que uma luta entre adversários. O baile acontece com elementos como música, ritmo, movimentos e etc. A busca pela colaboratividade, no contexto deste artigo, foca em pessoas e como elas se relacionam, sem perder de vista o potencializar os resultados desejados, pois se trata de um negócio financeiro.

Integra diversos elementos.

Adoto a Neuro-Semântica para integração e abertura a se permitir rever paradigmas, pressupostos, a mudar de nível, a aprender e a ensinar, dar e receber, considerando ingredientes como:

  • Empregar inteligência, conhecimento, interesse, flexibilidade e objetivos mútuos;
  • Uso da multiplicidade – acolher diferenças e variações, de forma conectiva e complementar;
  • Sinergia sistêmica, porém, ecológica, com benefícios a todos os envolvidos;
  • Objetivação comum e compartilhada de forma consensual e voluntária;
  • Abertura e articulação para inovação, criatividade e desconstrução construtiva;
  • Maturidade intelectual e emocional, flexível, para despojamento do individualismo;
  • Permissão para integrar, compor o grupo e alternar papéis de forma situacional;
  • Construir indicadores sólidos, usar de perspicácia para mensurar resultados, reconhecer erros e acertos, acolhê-los e celebrá-los, mantendo agilidade para implementar os ajustes, porém, consciente de que a harmonia não significa ausência de conflitos.

Colaboratividade é capacidade de relacionamento. 

Todo maestro vê a colaboratividade como um processo dinâmico e é sobre trabalhar e lidar com outras pessoas. O objetivo de relacionar é facilitar que todos possam conseguir o que uma única pessoa não poderia fazer sozinha.  Esse ambiente cria a sinergia, mesmo diante das diferenças individuais. Colaborar é sobre se conectar com pessoas e não simplesmente juntá-las.

Lembra da sensação na véspera da neurocirurgia? Pois bem, o nível de entrosamento da equipe reflete diretamente no resultado esperado. Da mesma forma que ter um grupo dos melhores jogadores em campo não significa que você tem uma seleção de alto desempenho. A exemplo disso foi o célebre jogo entre Alemanha e Brasil, na copa de 2014. O inter-relacionamento nos dois times, não só se refletiu no placar, como também no resultado final de primeiro e quarto colocados naquele mundial.

Por certo o elemento financeiro foi indiferente. Basta uma breve comparação. Se você somar o valor do passe individual dos craques brasileiros, verá um dos cinco mais caros naquele mundial. A partir desse exemplo é possível afirmar que: sem uma boa fusão de pessoas não se constrói algo que venha ocupar o patamar mais valioso. A exemplo da própria palavra colaboração, ela é mais importante que a soma de suas letras. Entretanto, foi a falta desse diferencial que fez a diferença para CBF ocupar o quarto lugar.

Clareza de comunicação e alinhamento de expectativas

Para que objetivos e benefícios sejam mútuos, é preciso uma comunicação clara que alinhe as expectativas e visões. Esta etapa é a fase que as partes pactuam um acordo que facilita surgir um time de alto desempenho colaborativo. 

Um pressuposto da Neuro-Semântica para a colaboratividade é a comunicação. Esta sem distorções e ruídos, ou qualquer interferência que possa obscurecer sua compreensão. A comunicação se assemelha às coordenadas de uma navegação, sem a qual nada e ninguém chegará ao destino pretendido, por melhor que sejam a previsão meteorológica. Os membros da equipe devem estar sempre alerta no tocante a este quesito, pois a brincadeira do “telefone sem fio” pode proporcionar a experiência de óbito no centro cirúrgico, ou naufrágio do barco. Aos passageiros uma visão interna da explosão da aeronave e aos torcedores a derrota na copa do mundo, ou chegar, até mesmo, à falência da empresa.

Colaborar é assumir antes de cobrar

Dentro do espectro da colaboratividade uma condição preponderante é o autorreconhecimento das próprias habilidade, competências, dons e talentos e tudo mais que cada indivíduo possa contribuir. E justiça seja feita, até mesmo diante do reconhecimento das próprias incompetências e da necessidade de supri-las por meio de outras pessoas. Esse olhar desperta para a consciência da real potencialidade da própria contribuição no coletivo. Tão logo identificado pelos integrantes, podem observar quais gaps necessitam de fechamento, bem como as intervenções mais oportunas e aplicáveis naquele momento.

Observe que a colaboração não subsiste sem assertividade e protagonismo. Ao estar consciente dos seus papéis correlatos é possível verificar a dimensão da contribuição de cada integrante e assumir, tão somente, os papéis que lhe cabe.

 O exemplo fala mais que mil palavras

Existe uma oportunidade extraordinária defendida na Neuro-Semântica, o estilo de liderança servidora, que é o equilíbrio entre líder e servo. Um líder servidor valoriza ideias, contribuições e regularmente busca opiniões com seus colegas de trabalho, estabelecendo uma cultura de confiança e respeito. Ao agir assim, ele elimina as disputas, o que favorece o processo de liderança situacional, onde cada parte assume seu papel, no contexto de maior domínio. O que contribui para despertar o espírito de “monge” interior e dominar seu “general autoritário” com a faca nos dentes.

O líder servidor também se preocupa em replicar novos líderes, ensinando outras pessoas a liderar e oferecendo oportunidades para o crescimento, pois identifica e reconhece os dons alheios. Umas das características do líder servidor é como um regente que usa sua batuta, como instrumento e nunca como arma, para buscar converter as disputas e lutas entre os músicos em um grande “baile”, ao não enxergar seus parceiros como ameaça e sim as possibilidades.

A colaboratividade é um contínuo flexível, que conjuga diversidades, identifica oportunidades, que recepciona bem as variações de natureza, de caráter e grau de contribuição. Colaborar é crescente e embora tenha origem na competição tem seu ápice na sinergia de todos, passando pela complacência, organização e/ou coordenação, cooperação, até chegar no compartilhamento colaborativo sinérgico.

Inexiste colaboração sem comportamentos e diversidades, como também sem o inter-relacionamento das pessoas. Conhecer e agir respeitoso diante das diversidades e variações dos integrantes é fundamental para o surgimento de um ambiente colaborativo mais favorável.

O que despertaria mais a colaboratividade: ordens (comando e controle) ou orientação?

Ao avaliar a própria capacidade de relacionamento e identificar o nível de clareza de comunicação, que ora está em uso, reúna os melhores recursos para promover o alinhamento de expectativas. Uma vez que, a colaboratividade surge mais facilmente no momento que se auto assume, para então cobrar dos pares. Servindo antes, e quem sabe, ordens se tornam desnecessárias.

Lendo sobre colaboração

Para entender a importância do que está sendo dito, é preciso que você saiba, antes, como isso afeta sua vida. E também porque a colaboratividade é um dos pilares da Neuro-Semântica. 

Na Neuro-Semântica cremos na união de: esforços, conhecimento e de habilidades; para alcançarmos de forma concreta nossos sonhos e objetivos. Nunca e ninguém obteve sucesso em grandes projetos de forma desconectada, isolada ou solitária. Prova disso é a construção do maior avião de passageiros do mundo, o Airbus A380, que só na montagem das partes, construídas e importadas dos cinco continentes, requer 1500 profissionais das mais distintas formações.

Colaboratividade é criar resultados práticos que podem ser mensurados, de forma a gerar satisfação e funcionalidade a todos. É potencializar muitas realizações, que seria mais difícil realizar sozinho, ou até impossíveis em algumas situações. Por melhor que seja o saxofonista do “Bolero” sem o apoio da orquestra sua performance não teria o mesmo efeito.

O trabalho colaborativo é um desafio considerável. Nem tudo são flores, até na primavera também temos tempestade e tufões. A abertura para colaboração pressupõe a disponibilidade para passar pelas intempéries. Sem resiliência dos envolvidos o processo de inspiração ficará profundamente afetado, o que inibe: resultados maiores, retorno financeiro, disponibilidade e aceitação para desafios relevantes, desenvolvimento de vantagens competitivas, enfrentamento das incertezas, vitalidade até encontrar resultados criativos. 

Para obter sucesso do trabalho em conjunto, é bem-vindo desenvolver um espírito de leveza e diversão, esse facilita a aprendizagem, a construção de cultura organizacional, relacionamentos de qualidade, a construção de uma equipe funcional e o trabalho integrativo, oportunidade de inspiração para o despertar de novos potenciais e produtos num ambiente criativo e promotor efetivo de resultados.

Com meu ingresso na Neuro-Semântica tenho aprendido na prática o valor do trabalho colaborativo. Desde setembro de 2017 atuo junto ao Comitê que organiza o Chapter da Meta-Coaching Fundation(MCF) aqui no Brasil. Esse trabalho é totalmente voluntário e patrocinado pela Sociedade Brasileira de Neuro-Semântica (SBNS), uma instituição sem fins lucrativos, que em conjunto com outros 13 institutos internacionais formam a International Society of Neuro-Semantics(ISNS).

Nossa missão no Chapter é promover um canal onde os profissionais que imergiram nos oito dias de formação do ACMC (Associate Certificed Meta-Coach), possam prosseguir com seu processo de aprendizado continuado. Essa tarefa que nos cabe não seria realizada sem a contribuição colaborativa de numerosos doadores, hoje materializado nesse blog que exibe esse artigo. Mas isso não para por aí, para que agora eu compartilhe com você uma singela colaboração, dependi de pessoas que organizassem os treinamentos da Neuro-Semântica, do dr. Michael Hall e de seus 3 livros traduzidos, entre os 60 publicados, que contou com amplo estudos de outros pesquisadores e por aí segue.

Meu plano inicial era redigir esse texto em parceria com outro expoente da Neuro-Semântica que admiro muito, mas nossas agendas não contribuíram, nem por isso deixei de considerar o desafio que seria expor parte do que entendo sobre colaboratividade. Por acreditar no valor de sua atenção intencionei disponibilizar a você o que chamei de reflexão sobre o tema.

Se te foi útil e se desejar prosseguir com a gente te espero no próximo capítulo, onde quero falar sobre: a ponte ser mais eficiente do que muro, do líder facilitador do seu time, sobre quanto o líder é avaliado pelo resultado do time, de porque as pessoas se demitem de seus chefes e não dos empregos. Também falarei sobre ambiente produtivo, sobre turnover e retenção de talentos, do substancial aumento do GAP entre expectativa e resultado sistêmico na organização, sobre o quanto rotular as pessoas é um erro contra a janela de oportunidade.

Gerson Sena de Castro
(12-99768.9946)
desenvolvendo.voce@hotmail.com

Na CFG Soluções Corporativas uso da Neuro-Semântica ao ser voluntário e arrumar as cadeiras na sala de reunião e facilitar a experiência de aprendizado nas áreas de autoliderança, colaboratividade e autorrealização, por acreditar que as pessoas podem ser mais felizes, realizadas e produtivas, até mesmo no ambiente de trabalho.

P.S: Quero agradecer o apoio de minhas colegas Inês Yoneyama e Liliane Lima, que atuam colaborativamente no Comitê do Blog, pelo apoio na revisão e ajustes desse texto.