Uma das maiores distinções no Metamodelo é a distinção linguística de nominalização. Quando você tem uma dessas criaturas, você tem um substantivo mistificado. É um mistério porque, por não ser um substantivo verdadeiro, é desafiador, às vezes difícil e às vezes totalmente impossível saber o que fazer com isso. Quão diferente de um substantivo real que é “uma pessoa, lugar ou objeto”. Quando você tem um substantivo real, você pode vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, saboreá-lo ou cheirá-lo. Exemplos de substantivos reais – sua mãe, sua cama, sua escova de dentes, sapato, camisa, carro, ovos, hambúrguer, etc.
Mas então, existem os substantivos falsos. São verbos que foram nominalizados. Pegue o verbo “relacionar” e, quando você o nominaliza, você tem “relacionamento.” O verbo que está escondido dentro de ̈¨relacionamento¨ é “relacionar.” Ele não é especificado, então temos que fazer mais perguntas: quem está se relacionando com quem, relacionando-se de que maneira, com que propósito, durante que período de tempo, etc.? Pegue ¨motivação¨ e qual é o verbo oculto dentro dela? Fácil. Primeiro temos ¨motivo¨(motive), depois ¨movimento¨ (move). Novamente, não especificado, então quem ou o que está em movimento? Em que direção? Qual é o estilo do movimento, em direção ou de afastamento, lentamente ou rapidamente etc.?
Muitas, se não a maioria, das nominalizações são assim – é fácil detectar o verbo oculto e expor o referente real. Isso é bom porque se você não fizer isso, ficará com um mapa mental distorcido sobre você mesmo, os outros, a vida e/ou o mundo. Você terá um mapa mental que é falso em relação aos fatos e isso irá enganá-lo, até mesmo iludi-lo, sobre as coisas. Psicólogos durante a maior parte do século XX foram enganados pela motivação. Eles pensaram que era uma coisa, um objeto, algo real, e então eles foram procurá-lo. Mas não é uma coisa! Não existe como uma entidade separada. Ela descreve uma função – a função de pensar e sentir (criação de significado) dentro de uma pessoa.
Maslow acertou quando identificou a motivação como uma função das necessidades impulsoras que precisam ser satisfeitas; ele escreveu um livro inteiro sobre isso – Motivations and Personality – Motivação e Personalidade (1954/1970).
Agora, vamos falar sobre uma das nominalizações mais misteriosas de todas: “mente”. Nós certamente falamos sobre “mente” como se fosse uma coisa, uma coisa real, um objeto que de alguma forma existe em nossas cabeças. Existe todo um campo, a Filosofia da Mente, na qual grandes “mentes” teorizam e filosofam sobre a mente. Alguns dizem que a mente é apenas o cérebro; alguns dizem que não existe tal coisa, “é uma invenção da sua imaginação.” Depois, há muitas outras definições, todas esforçando-se para especificar o que é. Mas, claro, esse é o ponto, não é uma coisa!
Felizmente, às vezes usamos a palavra “mente” como verbo. Ao entrar ou sair de trens ou metrôs, você vê as palavras “Cuidado com a lacuna” (Mind the gap). Nós ouvimos nossas mães dizer: “Agora preste atenção à sua mãe e faça o que eu lhe digo!” (Now you mind your mother and do what I tell you). Podemos ouvir nossos pais também dizerem: “Cuide do seu irmão enquanto eu entro na loja”, “Cuide de seus modos, você está na igreja!” Tem mais: cuide da sua própria vida, cuidado com a cabeça, cuidado com o seu passo, cuidado comigo, cuidado com você mesmo, cuidado com as cabras, etc.
Existem até “postulados conversacionais¨: “Você se importaria de passar o sal?” “Você se importaria de fechar a porta?”
Agora, quando se trata de um verbo, o que estamos realmente dizendo ou perguntando? “Cuidado com a lacuna” é pensar e prestar atenção à lacuna. Então com “preste atenção à sua mãe”, sabemos que ela quer dizer: ouça e pense sobre o que eu disse. “Mente” como verbo significa pensar, pensar sobre, prestar atenção, focar.
Agora você conhece o verbo oculto dentro de “mente”, é pensar. Mais uma vez, nós temos um verbo não especificado, então temos que fazer mais perguntas: Pensar de que maneira, pensar como, pensar sobre o quê, etc.? Agora, quando se trata de pensar, existem habilidades de pensamento essenciais: considerar, questionar, duvidar, detalhar e distinguir. Existem habilidades de pensamento construtivo que levam a momentos ¨eureka¨: inferir, organizar, criar e sinergizar (pensamento sistêmico). Em seguida, há as habilidades de pensamento avançado: aprender, decidir, discernir, refletir e sacralizar (valorizar). (Eu detalhei essas habilidades de pensamento no Brain Camp I (Campo da Mente I) e no próximo livro, Thinking for Humans (Pensamento para Humanos, 2024).
O que é a sua “mente”? Bem, como sabemos que não é uma coisa, deve ser uma função, e dado que o verbo oculto é “pensar”, aquilo a que nos referimos pela palavra “mente” são suas funções de pensamento. Pergunta: “O que está em sua mente?” Resposta: o que quer que você tenha estado pensando – seus pensamentos, suas ideias, suas construções. Pergunta: “O que está no fundo de sua mente?” Resposta: pensamentos anteriores que você agora usa como filtros ou referências para o pensamento. “O que significa quando você diz que deve estar perdendo sua cabeça (mente)? ¨ Resposta: Significa que você está esquecendo um pensamento ou não compreendendo um pensamento. “Você tem uma boa mente?” Agora estamos perguntando sobre a qualidade do seu pensamento e se você consegue pensar de maneira clara e razoável.
Mente – um mistério, especialmente quando você não sabe como desnominalizar. Mente – a maravilha da engenhosidade humana, criatividade e inovações quando você sabe que é o seu pensamento e a qualidade do seu pensamento. Mente – o resultado do seu pensamento. Sua mente é sua própria criação! Considerando isso, como está sua mente?